quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A diversidade em torno do “cult” atinge também o mundo musical

A expressão alemã kitsch abrange também a música, um dos elementos de maior funcionalidade na industria da cultura de massa.

Por Claudio Vieira – 6º Jor


Você já se pegou cantarolando músicas do rei Roberto Carlos alguma vez? A eterna “Emoções” sempre aparece todo final de ano nos nossos pensamentos, tendo com fato responsável as edições do especial de fim de ano do cantor. Querendo ou não, ela significa a despedida de um ano para novas emoções no ano seguinte.

Se você gosta desta música, e de outras consagradas, talvez você seja “Kitsch”. Pois isso se encaixa no conceito de imitação e reprodução, criado originalmente para indicar cópias de obras de arte. Não só o rei como também outros artistas brasileiros fazem parte desse “hall” de celebridades musicais.

Elba Ramalho é um exemplo desse estilo eclético. As músicas altamente populares, que misturam xote, frevo e forró entre outros ritmos, são sinais puros de extravagância e irreverência musical. A imagem da cantora sempre permaneceu intacta. Com uma marca registrada a cargo das madeixas ao vento, um símbolo diferente e intrigante aos olhos do comum, destacando-se sempre pela presença marcante com roupas pouco convencionais.
Tanto Elba como Roberto nos trazem uma pergunta: Por que tanta identificação e empolgação por parte da platéia? Podemos explicar tal efeito, também com a visão kantiana, apresentada por Eco em “Apocalípticos e Integrados”(1996). Nela, o juízo estético, o gosto, “brota do sujeito: ele se funda no sentimento, no sentimento do prazer e do belo, daquilo que é reconhecido sem conceito como objeto de um prazer necessário, mas desinteressado”, condizendo com a realidade do gosto musical, faz sentido apenas no ato de se deleitar ao ouvir uma canção que cause uma certa emoção, que desperte um sentimento.

Um outro cantor que vai para o lado “Kitsch” da música é Amado Batista. Com 31 anos de carreira e já com 29 álbuns lançados, permanece entre os cantores mais requisitados entre o público brasileiro. Não pela imagem do goiano que se pode ditar que seja “Kitsch”, mas pelas músicas. É só analisar a letra de “Princesa” no verso que diz: “Que vontade louca que eu tenho de tê-la comigo// Calar sua boca bonita com um beijo meu”.

O Kitsch pode, inclusive, transitar entre o brega e o chique, mas uma coisa é certa: Versos tão românticos e cheios de emoção, pincelam um estado kitsch de ser.

No rock nacional uma das grandes figuras é a paulistana Rita Lee. Com sua máscara psicodélica e uma certa malandragem em sua estética musical, sobreviveu aos tempos desde o tropicalismo quando fazia parte da banda “Os Mutantes”. Com uns óculos à moda John Lennon, ainda marca presença considerável na cultura musical brasileira mesmo aos 60 anos de vida.

A moda Kitsch de Rita Lee é apresentada de forma irreverente, com roupas irregulares e cabelos cada vez mais sinteticamente coloridos. O jeito prático da cantora e compositora de lidar com as diferentes facetas musicais é inegável e invejável. Entre os monstros da MPB, Rita Lee já compôs com outros Kitschs como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Zizi Possi, Simone e outros, incluído uma composição para a cantora cubana Gloria Estefan, também estrela kitsch.

Você deve lembrar ainda dos paulistas “Mamonas Assassinas” que apareceram de forma sorrateira na indústria musical brasileira. O Grupo que faturou 80 milhões de reais em vendagens de cds e shows pela EMI em apenas um ano de existência, misturava uma sonoridade satírica com rock, pop, sertanejo e, às vezes, até brega, conquistou um vasto público e ser tornou um grupo ápice na deformidade musical de entretenimento (a indústria cultural), mas que cada vez mais conquistava público.

Letras como a do “Vira-Vira” que utilizava riffs de guitarra, brincava com situações um tanto que incomuns a qualquer pessoa e trazia divertimento. Quando rolava as apresentações o “kitsch” – além das letras que pouco diziam - podia ser visualizado nas roupas e figurinos nada convencionais: Roupa de presidiário, perucas, calças e camisas estampadas com uma temática exagerada, faziam parte do grupo.

Entre os internacionais precursores do Kitsch na música está o rei do rock americano, Elvis Presley, que aparece revolucionando a questão estética de roupa. Quem não fica entusiasmando ao ver réplicas dele por aí, sósias caracterizados com um topete que leva mais ou menos duas horas para deixar tudo no lugar? E as calças largas boca de sino? Condizente com a forma ímpar de se expressar, o pop e o rock também podem ser considerados por si só uma arte inusitada e diferente de qualquer outro estilo musical, justamente pelo uso do “over” ou algo que possa dizer como sobrecarregado em relação ao visual e as composições.

E a Madonna, quem não se inspirou na americana que não era (e não é) nada convencional em suas roupas, cabelos e maquiagem? Tanto é que por seu jeito único e irreverente de ser, se tornou um símbolo “kitsch”. As reinvenções da cantora geravam e ainda geram as imitações, ou você esqueceu dos sutiãs pontiagudos e cônicos que ela usava nas apresentações?

E não podíamos esquecer dos pops internacionais Bee Gees e Abba, que marcaram o “ritmo dos sábados a noite”. As discotecas, nascidas na década de 70 se encaixam no padrão kitsch. E os sons piscodélicos produzidos por teclados eletrônicos e letras até inspiradoras fizeram parte da indústria musical dos anos 80 e 90.

É através dessa mistura de conceitos, atitudes e principalmente gosto musical, que os acadêmicos dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas se unem para trazer a você a festa que vai proporcionar uma noite inesquecível, descobrindo figuras que fizeram e ainda fazem parte da cultura kitsch, onde o “over” é sempre bem vindo. Enquanto que o convencional é deixado de lado, a imaginação estará livre para curtir boa música, divertimento e uma galera nada careta e estrondosamente kitsch.

Nenhum comentário: